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O BRINCAR E A CRIANÇA
"O
brincar é uma necessidade básica e um direito de todos. O brincar é uma
experiência humana, rica e complexa." (ALMEIDA, M. T.
P, 2000)
Gostaria
de começar o artigo lembrando ao educador sobre os reais objetivos da
Educação Infantil. Estes objetivos devem ser pensados a longo prazo e
dentro de uma perspectiva do desenvolvimento da criança. Os objetivos serão
divididos com relação a três pontos.
I. Em
relação aos professores: gostaríamos que as crianças desenvolvessem sua
autonomia através de relacionamentos seguros no qual o poder do adulto seja
reduzido o máximo possível.
II. Em
relação aos companheiros: gostaríamos que as crianças desenvolvessem sua
habilidade de descentrar e coordenar diferentes pontos de vista.
III. Em
relação ao aprendizado: gostaríamos que as crianças fossem alertas,
curiosas, criticas e confiantes na sua capacidade de imaginar coisas e
dizer o que realmente pensam. Gostaríamos também que elas tivessem
iniciativa, elaborassem idéias, perguntas e problemas interessantes e
relacionassem as coisas umas às outras. (KAMII, 1991, p. 15.)
Vamos
também iniciar o artigo fazendo uma pergunta: "O que as crianças
precisam para serem felizes?"
A
criança para ser feliz precisa de muita coisa, mas, em especial ela precisa
de:
Sabemos
que o brincar é um direito da criança como apresentam diversos documentos
internacionais:
· Declaração
universal dos direitos da criança - ONU (20/11/1959)
"...
A criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos jogos e às
atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados pela
educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se por favorecer
o gozo deste direito". (Declaração universal dos direitos da
criança, 1959)
· Associação
internacional pelo direito da criança brincar - IPA 1979 (Malta), 1982
(Viena), 1989 (Barcelona)
Os
princípios norteadores da Associação Internacional pelo Direito da Criança
Brincar - IPA são:
Saúde
Brincar
é essencial para saúde física e mental das crianças.
Educação
Brincar
faz parte do processo da formação educativa do ser humano.
Bem
estar - ação social
O
brincar é fundamental para a vida familiar e comunitária.
Lazer
no tempo livre
A
criança precisa de tempo para brincar em seu tempo de lazer.
Planejamento
As
necessidades da criança devem ter prioridade no planejamento do equipamento
social.
Diante
do exposto percebe-se que nem sempre a teoria pode ser aplicada na prática,
afinal vivemos em um país que não tem dado aos pequenos a devida
importância, principalmente no que se refere ao direito de brincar. Nunca
devemos esquecer que o brincar é uma necessidade básica e um direito de
todos. O brincar é uma experiência humana, rica e complexa. Se o brincar é
um direito devemos ter, estimular e cobrar políticas públicas dirigidas em
quatro eixos básicos:
I.
Criação de espaços lúdicos estruturados para jogos, brinquedos e
brincadeiras;
II.
Organização sistemática de ações de formação lúdica de recursos humanos em
diferentes níveis;
III.
Campanhas formativas e informativas sobre a importância do brincar;
IV.
Criação de centros de pesquisa, de documentação e assessoria sobre jogos,
brinquedos e brincadeiras e outros materiais lúdicos.
Gostaria
de encerrar com a seguinte reflexão: o brincar tem contido nele os mais
diferentes elementos e valores que são suas virtudes e os seus pecados.
Virtudes, porque na essência, eles são constituídos de princípios generosos
que permitem a revitalização permanente. Pecados porque o brincar pode ser também
manipulado e desviado para as mais diferentes finalidades ou objetivos,
podendo comprometer a verdade.
Um
outro documento de grande relevância foi o estudo introdutório do
referencial curricular nacional para a educação infantil no eixo do brincar
e conhecido como Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN's. Este documento
foi criado no ano de 1998 em Brasilia por educadores especialistas no
assunto. Elencaremos abaixo alguns pontos apresentados neste estudo:
É imprescindível que haja riqueza e diversidade
nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições.·
A brincadeira é uma linguagem infantil.·
No ato de brincar, os· sinais, os
gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que
aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos
que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.
O principal indicador da brincadeira,
entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam.·
Nas brincadeiras, as· crianças
transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos
gerais com os quais brinca.
O brincar contribui, assim, para a
interiorização de determinados modelos de adulto.·
Os conhecimentos da· criança provêm
da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na
família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de
cenas assistidas na televisão, no cinema ou narradas em livros etc.
É no ato de brincar que· a criança
estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel
assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papéis,
tomando consciência disto e generalizando para outras situações.
Para brincar é preciso· que as crianças
tenham certa independência para escolher seus companheiros e os papéis que
irão assumir no interior de um determinado tema e enredo, cujos
desenvolvimentos dependem unicamente da vontade de quem brinca.
Segundo
os PCN's o brincar apresenta-se por meio de várias categorias. E essas
categorias incluem:
O movimento e as mudanças da percepção
resultantes essencialmente da mobilidade física das crianças;·
A relação com os objetos e suas
propriedades físicas assim como a combinação e associação entre eles;·
A linguagem oral e· gestual que
oferecem vários níveis de organização a serem utilizados para brincar; os
conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se
referem à forma como o universo social se constroem;
E, finalmente, os limites definidos pelas
regras, constituindo-se em um recurso fundamental para brincar.·
O
brincar pode, de acordo com os estudiosos e pesquisadores do tema ser
dividido em duas grandes categorias:
O Brincar Social: reflete o grau no quais
as crianças interagem umas com as outras.·
O Brincar Cognitivo: revela o nível de
desenvolvimento mental da criança.·
Estas
categorias de experiências podem ser agrupadas em quatro modalidades
básicas de brincar:
O brincar tradicional·
O brincar de faz-de-conta·
O brincar de construção·
O brincar educativo·
As
crianças na idade de educação infantil vivenciam experiências lúdicas
sociais e não-sociais. Um estudo feito por PARTEN (1932) citado por PAPALIA
(2000) revela que no brincar das crianças pequenas, podemos identificar
seis tipos de atividades lúdicas sociais e não-sociais:
Comportamento desocupado·
Comportamento observador·
Atividade independente (solitária)·
Atividade paralela·
Atividade associativa·
Atividade cooperativa ou organizada
suplementar·
É
importante saber que existem cinco grandes pilares básicos nas ações
lúdicas das crianças em seus jogos, brinquedos e brincadeiras, estes
pilares são:
I. A
imitação
II. O
espaço
III. A
fantasia
IV. As
regras
V. Os
valores
Para
entender o universo lúdico é fundamental compreender o que é brincar e para
isso, é importante conceituar palavras como jogo, brincadeira e brinquedo,
permitindo assim aos professores de educação infantil e do ensino
fundamental trabalhar melhor as atividades lúdicas. Esta tarefa nem sempre
é fácil exatamente pelo fato dos autores compreenderem os termos de forma
diferente. Temos que salientar que esta dificuldade não é somente do
Brasil, outros países que se preocupam em pesquisar o tema, também têm
dificuldade quanto às conceituações. Para efeito deste artigo adotaremos as
seguintes definições.
O
que é brinquedo?
Para a
autora KISHIMOTO (1994) o brinquedo é compreendido como um "objeto
suporte da brincadeira", ou seja, brinquedo aqui estará representado
por objetos como piões, bonecas, carrinhos etc. Os brinquedos podem ser
considerados: estruturados e não estruturados. São denominados de
brinquedos estruturados aqueles que já são adquiridos prontos, é o caso dos
exemplos acima, piões, bonecas, carrinhos e tantos outros.
Os
brinquedos denominados não estruturados são aqueles que não sendo industrializados,
são simples objetos como paus ou pedras, que nas mãos das crianças adquirem
novo significado, passando assim a ser um brinquedo. A pedra se transforma
em comidinha e o pau se transforma em cavalinho. Portanto,
vimos que os brinquedos podem ser estruturados ou não estruturados
dependendo de sua origem ou da transformação criativa da criança em cima do
objeto.
O
que é brincadeira?
A
brincadeira se caracteriza por alguma estruturação e pela utilização de
regras. Exemplos de brincadeiras que poderíamos citar e que são amplamente
conhecidas: Brincar de Casinha, Ladrão e Polícia etc. A brincadeira é uma
atividade que pode ser tanto coletiva quanto individual. Na brincadeira a
existência das regras não limita a ação lúdica, a criança pode modificá-la,
ausentar-se quando desejar, incluir novos membros, modificar as próprias
regras, enfim existe maior liberdade de ação para as crianças.
O
que é jogo?
A
compreensão de jogo está associada tanto ao objeto (brinquedo) quanto à
brincadeira. É uma atividade mais estruturada e organizada por um sistema
de regras mais explícitas. Exemplos clássicos seriam: Jogo de Mímica, de
Cartas, de Tabuleiro, de Construção, de Faz-de-Conta etc. Uma
característica importante do jogo é a sua utilização tanto por crianças quanto
por adultos, enquanto que o brinquedo tem uma associação mais exclusiva com
o mundo infantil.
Os
diferentes significados do brincar
Um
mesmo jogo, brinquedo ou brincadeira para diferentes culturas pode ter
diferentes significados, isto quer dizer que é preciso considerar o
contexto social onde se insere o objeto de nossa análise.
Boneca:
Objeto que pode ser utilizado como um brinquedo em uma cultura, ser
considerado objeto de adoração em rituais ou ainda um simples objeto de
decoração.
Arco e
Flecha: Objeto que pode ser utilizado como brinquedo em uma cultura, mas em
outra cultura é um objeto no qual se prepara às crianças para a caça e a
pesca visando à sobrevivência.
Depois
das definições apresentadas é necessário esclarecer que as mesmas devem servir
para ajudar na reflexão do professor em sua ação lúdica diante da criança e
não para limitá-lo neste processo. É importante que as pessoas envolvidas
na pesquisa do lúdico acreditem que o jogo, o brinquedo e a brincadeira
terão um sentido mais profundo se vierem representados pelo brincar.
Em
resumo o universo lúdico abrange, de forma mais ampla os termos brincar,
brincadeira, jogo e brinquedo. O brincar caracteriza tanto a brincadeira
como o jogo e o brinquedo como objeto suporte da brincadeira e/ou do jogo.
(ver figura)
2.
Papel do educador na educação lúdica
"A
esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um amigo,
um guia, um animador, um líder - alguém muito consciente e que se preocupe
com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si de do mundo e que seja
capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e uma
sociedade melhor". (ALMEIDA,1987,p.195)
Para se
ter dentro de instituições infantis o desenvolvimento de atividades lúdicas
educativas, é de fundamental importância garantir a formação do professor e
condições de atuação. Somente assim será possível o resgate do espaço de
brincar da criança no dia-a-dia da escola ou creche.
Para
nós a formação do Educador Infantil, ganha em qualidade se, em sua sustentação,
estiverem presentes três pilares:
I.
Formação teórica
II.
Formação pedagógica
III.
Formação lúdica
A
decisão de se permitir envolver no mundo mágico infantil seria o primeiro
passo que o professor deveria dar. Explorar o universo infantil exige do
educador conhecimento teórico, prático, capacidade de observação, amor e
vontade de ser parceiro da criança neste processo. Nós professores podemos
através das experiências lúdicas infantis obtermos informações importantes
no brincar espontâneo ou no brincar orientado. Estas descobertas podem
definir critérios tais como:
A duração do envolvimento em um
determinado jogo;·
As competências dos jogadores envolvidos;·
O grau de iniciativa, criatividade,
autonomia e criticidade que o jogo proporciona ao participante;·
A verbalização e linguagem que acompanham
o jogo;·
O grau de interesse, motivação,
satisfação, tensão aparente durante o jogo (emoções, afetividade etc.);·
Construção do conhecimento (raciocínio,
argumentação etc.);·
Evidências de comportamento social
(cooperação, colaboração, conflito, competição, integração etc.).·
A
aplicação de jogos, brincadeiras e brinquedos em diferentes situações
educacionais podem ser um meio para estimular, analisar e avaliar
aprendizagens específicas, competências e potencialidades das crianças
envolvidas.
No
brincar espontâneo podemos registrar as ações lúdicas a partir da:
observação, registro, análise e tratamento. Com isso, podemos criar para
cada ação lúdica um banco de dados sobre o mesmo, subsidiando de forma mais
eficiente e científica os resultados das ações. É possível também fazer o
mapeamento da criança em sua trajetória lúdica durante sua vivência dentro
de um jogo ou de uma brincadeira, buscando dessa forma entender e
compreender melhor suas ações e fazer intervenções e diagnósticos mais
seguros ajudando o indivíduo ou o coletivo. As informações obtidas pelo
brincar espontâneo permitem diagnosticar:
Idéias, valores interessantes e
necessidades do coletivo ou do indivíduo;·
Estágio de desenvolvimento da criança;·
Comportamento dos envolvidos nos
diferentes ambientes lúdicos;·
Conflitos, problemas, valores etc.·
Com
isso podemos definir, a partir de uma escolha criteriosa, as ações lúdicas
mais adequadas para cada criança envolvida, respeitando assim o princípio
básico de individualidade de cada ser humano.
Já no
brincar dirigido pode-se propor desafios a partir da escolha de jogos,
brinquedos ou brincadeiras determinadas por um adulto ou responsável. Estes
jogos orientados podem ser feitos com propósitos claros de promover o
acesso a aprendizagens de conhecimentos específicos como: matemáticos,
lingüísticos, científicos, históricos, físicos, estéticos, culturais,
naturais, morais etc. E um outro propósito é ajudar no desenvolvimento cognitivo,
afetivo, social, motriz, lingüístico e na construção da moralidade (nos
valores).
Segundo
o professor ALMEIDA (1987) a educação lúdica pode ter duas conseqüências,
dependendo de ser bem ou mal utilizada:
I. A
educação lúdica pode ser uma arma na mão do professor despreparado, arma
capaz de mutilar, não só o verdadeiro sentido da proposta, mas servir de
negação do próprio ato de educar;
II. A
educação lúdica pode ser para o professor competente um instrumento de
unificação, de libertação e de transformação das reais condições em que se
encontra o educando. É uma prática desafiadora, inovadora, possível de ser
aplicada.
Sobre
este tema do papel do educador como facilitador dos jogos, das
brincadeiras, da utilização dos brinquedos e principalmente da organização
dos espaços lúdicos para criança de 0 a 6 anos muito poderia ser dito, mas
gostaríamos de chamar atenção sobre alguns aspectos considerados
importantes para facilitar a relação da criança e do professor nas
atividades lúdicas. Estas informações foram tiradas do projeto
"Brincar é coisa séria" desenvolvido pela Fundação Samuel - São
Paulo, em campanha realizada em 1991, p.8, 9 e 10.
Segundo
REGO (1994), autora da obra citada, o papel do educador é o seguinte:
O educador tem como papel· ser um
facilitador das brincadeiras, sendo necessário mesclar momentos onde
orienta e dirige o processo, com outros momentos onde as crianças são
responsáveis pelas suas próprias brincadeiras.
É papel do educador· observar e
coletar informações sobre as brincadeiras das crianças para enriquecê-las
em futuras oportunidades.
Sempre que possível o educador deve
participar das brincadeiras e aproveitar para questionar com as crianças
sobre as mesmas.·
É importante organizar e· estruturar o
espaço de forma a estimular na criança a necessidade de brincar, também
visando facilitar a escolha das brincadeiras.
Nos jogos de regras o· professor não
precisa estimular os valores competitivos, e sim tentar desenvolver
atitudes cooperativas entre as crianças. Que o mais importante no brincar é
participar das brincadeiras e dos jogos.
Devemos respeitar o· direito da
criança participar ou não de um jogo. Neste caso o professor tem que criar
uma situação diferente de participação dela nas atividades como: auxiliar
com materiais, fazer observações, emitir opiniões etc.
Em uma situação de jogo· ou brincadeira
é importante que o educador explique de forma clara e objetiva as regras às
crianças. E se for necessário pode mudá-las ou adaptá-las de acordo com as
faixas etárias.
Estimular nas crianças a· socialização do
espaço lúdico e dos brinquedos, criando assim o hábito de cooperação,
conservação e manutenção dos jogos e brinquedos. Exemplos: "quem
brincou guarda"; "no final da brincadeira todos ajudam a guardar
os materiais" etc.
Estimular a imaginação· infantil, para
isso o professor deve oferecer materiais dos mais simples aos mais
complexos, podendo estes brinquedos ou jogos serem estruturados
(fabricados) ou serem brinquedos e jogos confeccionados com material reciclado
(material descartado como lixo), por exemplo: pedaço de madeira; papel;
folha seca; tampa de garrafa; latas secas e limpas; garrafa plástica;
pedaço de pano etc. Todo e qualquer material cria para a criança uma
possibilidade de fantasiar e brincar.
É interessante que o· professor
providencie para que as crianças tenham espaço para brincar (área livre), e
que possam mexer no mobiliário, montar casinhas, fazer cabanas, tendas de
circo etc.
O professor deve dar o tempo necessário às
crianças para que as brincadeiras apareçam, se desenvolvam e se encerrem.·
Ser aquele que coordena sua ação a ação da
criança, pelo conhecimento e ligação com as emoções desta.·
RIZZO
(1996) em seu livro "Jogos Inteligentes" analisa com muita
propriedade alguns aspectos necessários para que um bom educador possa
realizar sua atividade com crianças pequenas. Para a autora o educador:
Deve ser um líder· democrático,
que propicia, coordena e mantém um clima de liberdade para a ação do aluno,
limitado apenas pelos direitos naturais dos outros.
Deve atuar em sintonia com a criança para
estabelecer a necessária cooperação mútua.·
Precisa ter antes construído a sua
autonomia intelectual e segurança afetiva.·
Precisa aliar a teoria à prática e
valorizar o conhecimento produzido a partir desta.·
Deve jogar com as· crianças e
participar ativamente de suas brincadeiras, talvez seja o caminho mais
seguro para obter informações e conhecimentos sobre o mundo infantil.
(RIZZO, 1996, p.27 e 29)
Espera-se
que as sugestões acima possam abrir novos horizontes, reflexões e
questionamentos para o educador infantil, e que com isso ele possa
desenvolver atividades mais conscientes e seguras.
3.
Brincar é importante ... por quê?
Para a
professora CUNHA (1994), o brincar é uma característica primordial na vida
das crianças. Segundo a autora em seu livro "Brinquedoteca: um
mergulho no brincar" o brincar para a criança é importante:
Porque é bom, é gostoso· e dá
felicidade, e ser feliz é estar mais predisposto a ser bondoso, a amar o próximo
e a partilhar fraternalmente;
Porque é brincando que a criança se
desenvolve, exercitando suas potencialidades;·
Porque, brincando, a· criança aprende
com toda riqueza do aprender fazendo, espontaneamente, sem pressão ou medo
de errar, mas com prazer pela aquisição do conhecimento;
Porque, brincando, a· criança
desenvolve a sociabilidade, faz amigos e aprende a conviver respeitando o
direito dos outros e as normas estabelecidas pelo grupo;
Porque, brincando,· aprende a
participar das atividades, gratuitamente, pelo prazer de brincar, sem visar
recompensa ou temer castigo, mas adquirindo o hábito de estar ocupada,
fazendo alguma coisa inteligente e criativa;
Porque, brincando,· prepara-se para
o futuro, experimentando o mundo ao seu redor dentro dos limites que a sua
condição atual permite;
Porque, brincando, a· criança está
nutrindo sua vida interior, descobrindo sua vocação e buscando um sentido
para sua vida. (CUNHA, 1994, p. 11)
Sendo
assim fica claro que o brincar para a criança não é uma questão apenas de
pura diversão, mas também de educação, socialização, construção e pleno
desenvolvimento de suas potencialidades.
4.
Por quê nem todas as crinças brincam?
Segundo
Declaração Universal dos Direitos da Criança todas as crianças têm o direito
de brincarem e de serem felizes, mas nem sempre elas têm essa oportunidade,
por quê?
Porque precisam trabalhar;·
Porque precisam estudar e conseguir notas
altas;·
Porque são tratadas como adultos em
miniatura;·
Porque não podem atrapalhar os adultos;·
Porque não têm com o que brincar;·
Porque não tem espaços (em cidades)
apropriados para brincar;·
Porque é preciso aprender e ser
inteligente. (CUNHA, 1994, p. 12)·
Diante
do exposto percebe-se que nem sempre a teoria pode ser aplicada na prática,
afinal vivemos em um país que não tem dado aos pequenos a devida
importância, principalmente no que se refere ao direito de brincar.
5.
Critérios para escolha de brinquedos
O que é
um bom brinquedo para a criança?
- É o
que atende as necessidades da criança. (CUNHA, 1994)
Para
que os brinquedos atendam as reais necessidades dos sujeitos envolvidos na
ação lúdica é necessário que os seguintes fatores estejam presentes para
que isso aconteça:
Interesse
O
brinquedo mais lindo e sofisticado não tem valor algum se não der prazer à
criança, pois sua validade é o interesse da criança que irá determinar. Bom
brinquedo é o que convida a criança a brincar, é o que desafia seu
pensamento, é o que mobiliza sua percepção, é o que proporciona
experiências e descobertas.
Para
diferentes momentos, diferentes brinquedos poderão ser mais indicados. Um
brinquedo que estimula a ação, outro que possibilite uma aprendizagem, ou
que satisfaça a imaginação e a fantasia da criança; às vezes, apenas um
ursinho de pelúcia que lhe faça companhia.
Dar um
carrinho para um menino de 10 anos pode ser tão ofensivo quanto seria
desapontador oferecer um quebra-cabeças de 500 peças a um garoto de 5 anos.
Mas nem sempre a criança sozinha irá escolher o melhor brinquedo para ela; um
menino, ao entrar numa loja, pode procurar só revólveres ou carrinhos, mas
isto não significa que só goste deste tipo de brinquedo, mas sim que só
reconhece estes objetos. Os carros estão nas ruas por onde a criança passa
e os revólveres e as metralhadoras são a fonte do poder, segundo a mensagem
passada pelas dezenas de filmes que a criança assiste todos os dias na
televisão.
Certos
brinquedos precisam ser apresentados à criança para que possa imaginar o
que pode fazer com eles. 0 que torna um brinquedo atraente para uma
criança? Um brinquedo pode tornar-se irresistível e até imprescindível
pelas seguintes razões:
Por haver-se tornado um· objeto de
afeto; quantas vezes a ligação com uma boneca, ou um ursinho, é tão forte
que a criança não dorme sem ele.
Por representar status, como no caso dos
brinquedos anunciados na televisão ou importados.·
Por darem sensação de segurança, como os
revólveres e as fardas de soldados e super-heróis.·
Por atender a uma hiperatividade.·
Por funcionar como objeto intermediário
entre a criança e uma situação difícil para ela.·
Por satisfazer uma determinada carência ou
atender a uma fantasia.·
Por ser desafio a uma determinada
habilidade, como os ioiôs, bambolês, skates etc.·
Porque algum amigo tem.·
Adequação
O
brinquedo deve ser adequado à criança, considerada como indivíduo especial
e diferenciado; deve atender à etapa de desenvolvimento em que a criança se
encontra e as suas necessidades emocionais, socioculturais, físicas ou
intelectuais.
Apelo
à imaginação
O
brinquedo deve estimular a criatividade. Quando é muito dirigido e não
oferece alternativas, passa a ser apenas uma tarefa a ser cumprida. É
aconselhável que haja sempre um convite a participação criativa.
Entretanto, este apelo deve estar à altura da criança. Os jogos muito
abstratos não conseguirão motivá-la, pois, para poder criar, ela precisa
ter alguns pontos de referência.
Versatilidade
O
brinquedo que pode ser utilizado de várias maneiras é um convite a
exploração e a inventividade. A criança pode brincar com algo que já
conhece, mas criando novas formas ou alcançando objetivos diferentes. É
interessante que o jogo possibilite à criança a obtenção de sucesso
progressivo, para que, à medida que ela vai conhecendo melhor os recursos
que ele oferece, possa alcançar níveis mais altos de realização. Um jogo
bem versátil pode representar um constante desafio às habilidades da
criança.
Composição
As
crianças gostam de saber como o brinquedo funciona ou como ele é por
dentro. Por esta razão, os jogos desmontáveis são mais interessantes. 0
pensamento lógico é bastante estimulado pelo manuseio dos jogos de montar,
nos quais a criança tem oportunidade de compor e observar a seqüência
necessária para a montagem correta.
Cores
e formas
As
cores mais fortes e as formas mais simples atraem mais as crianças
pequenas. Mas as maiores preferem cores naturais e formas mais
sofisticadas. De qualquer maneira, a variedade no colorido, na forma e na
textura irá contribuir para a estimulação sensorial da criança, enriquecendo
sua experiência.
O
tamanho
Deve
ser compatível com a motricidade da criança. Um bebê não pode brincar com
peças pequenas pois poderá levá-las a boca, engolir ou engasgar-se com
elas. Também não terá coordenação motora suficiente para manipular peças
miúdas. Brinquedos grandes e pesados podem machucar a criança ao caírem no
chão.
Durabilidade
Os
brinquedos muito frágeis causam frustração não somente por se quebrarem
facilmente, mas também porque não dão à criança o tempo suficiente para que
estabeleça uma boa relação com eles.
Segurança
Tintas
tóxicas, pontas e arestas, peças que podem se soltar, tudo isto deve ser
observado num brinquedo, para evitar que a criança se machuque. Com os
bebês, o cuidado deve ser ainda maior, pois, levando tudo à boca, correm o
risco de engolir ou engasgar-se com uma pequena peça que se desprenda.
Cuidado com os sacos plásticos, porque podem provocar sufocação se levados
à boca ou enfiados na cabeça. É melhor evitá-los. Nem sempre será possível
atender a todos estes pré-requisitos para fazer uma escolha. Mas, pelo
menos o primeiro e o último desta lista serão indispensáveis considerar.
6.
Sobre a segurança dos brinquedos: alguns cuidados e sugestões
As
crianças, acostumadas que estão a passarem grande parte do tempo em frente
à TV, são vítimas ingênuas dos apelos da publicidade e desorientam os pais
com exigências sutis, declaradas e até abusadas. Como nenhum pai agüenta a
cantilena e até as pirraças comuns aos baixinhos contrariados, acabam
cedendo aos seus apelos. Mas é necessário que estejam atentos para
comprarem produtos que tenham alguma utilidade para as crianças, e mais,
que não tragam danos imediatos ou futuros. Vamos a alguns conselhos:
Brinquedo é um tipo de· treinamento
divertido para a criança, através dele é que ela começa a aprender,
conhecer e compreender o mundo que a rodeia.
Existem brinquedos para· todas as faixas
etárias. Não adianta forçar a natureza. Quanto mais adequado à idade da
criança, mais útil ele é. Se o brinquedo puder ser utilizado em várias
idades acompanhando o desenvolvimento, melhor ainda.
Brinquedos que servem· para adultos
brincarem e crianças assistirem não são estimulantes. Pelo contrário:
habituam a criança a ser um mero espectador.
Bom brinquedo estimula· a imaginação e
desenvolve a criatividade. Brinquedos que ensinam apenas a repetir
mecanicamente o que os outros fazem são prejudiciais, irritantes e
monótonos.
Criança gosta de· brinquedos que
possibilitem ação e movimento, com isso, aprende a coordenar olhos, mãos e
o corpo, garantindo com naturalidade e prazer uma maior saúde física e
mental no futuro.
Brinquedo sério é· aquele que
educa a criança para uma vida saudável, livre, solidária, onde o
companheirismo e a amizade sejam os pilares básicos.
Evite tudo o que· condiciona a
padrões discutíveis como a discriminação sexual, racial, religiosa e
social. Afaste brincadeiras que incentivam a vitória a qualquer custo, a
esperteza fora das regras, a conquista de lucro ilegal, a compra ou venda
através de meios desonestos.
7.
Considerações finais e sugestões
Tentamos
de forma resumida mostrar algumas idéias sobre o brincar. Agora cabe a cada
leitor fazer uma reflexão mais profunda sobre este tema tão maravilhoso e
ao mesmo tempo misterioso. Esperamos que as informações contidas neste
trabalho possam ajudar ao educador infantil, na organização e planejamento
de suas atividades. É importante colocar que o educador que trabalha
diretamente com crianças pequenas deve sempre que possível ler artigos,
textos e livros que falem sobre jogos, brincadeiras, brinquedos, e ainda
sobre a criança e o seu desenvolvimento. Por isso esperamos que os
conteúdos abordados acima venham colaborar de forma objetiva e concreta
para uma melhor compreensão do universo lúdico infantil. E principalmente
para uma melhor qualidade educativa na formação lúdica do educador
infantil. Caro educador não esqueça que existem várias formas de brincar e
nem sempre é preciso dinheiro para isso, só precisa de imaginação, ser
criativo e acreditar em
sonhos. Os estudos feitos por SINGER & SINGER, (1990)
citado por PAPALIA (2000) mostra que o brincar de faz-de-conta é um ótimo
recurso para a realização deste sonho:
I.
Cerca de 10 a
17 % do brincar nas crianças de 2
a 3 anos é o jogo de faz-de-conta;
II. A
proporção aumenta para cerca de 33% nas idades de 4 a 6 anos;
III. A
dimensão do jogo de faz-de-conta muda na proporção que as crianças crescem.
Passam do jogo imaginativo para o jogo sociodramático;
IV.
Através do faz-de-conta, as crianças aprendem a compreender o ponto de
vista de outra pessoa, a desenvolver habilidades na resolução de problemas
sociais e a expressar sua criatividade;
V. As
crianças que com freqüência brincam de faz-de-conta tendem a cooperar mais
com outras crianças e tendem a ser mais populares e mais alegres do que
aquelas que não brincam de modo imaginativo;
VI. Os
adultos e crianças que brincam de faz-de-conta tendem a ter uma relação
mais saudável e prazerosa;
VII. As
crianças que brincam de faz-de-conta tem mais facilidade de criar suas
próprias imagens e ser protagonista da ação lúdica;
VIII.
Quanto maior for a qualidade do brincar maior será o desenvolvimento
cognitivo.
8.
Bibliografia consultada e sugestões
1)
ALMEIDA, M.T.P. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis, RJ:
Editora Vozes, 2004.
2)
____. Los juegos cooperativos em la educación física: una propuesta lúdica
para la paz. In: Juegos cooperativos. Tándem. Didáctica de la Educación Física
nº 14, ano 4. Barcelona-Espanha: GRAÓ, 2004, pp. 21 - 31.
3)
____. Os Jogos Tradicionais Infantis em Brinquedotecas Cubanas
e Brasileiras. São Paulo: USP, 2000. (Dissertação de Mestrado)
4)
____. Brinquedoteca e a importância de um espaço estruturado para o
brincar. In: Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis,
RJ: Editora Vozes,1997, pp. 132 -140.
5)
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica - técnicas e jogos pedagógicos.
São Paulo: Edições Loyola, 1987.
6)
BERTTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. Trad. Maura Sardinha e Maria
Helena Geordane. Rio de Janeiro: campus, 1988.
7)
BORJA, Maria Sole. O jogo infantil: organização das ludotecas. Lisboa -
Portugal: Instituto de Apoio à Criança - IAC, 1992.
8)
CUNHA, Nylse H. S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo.
Maltese, 1994.
9)
KAMII, Constance & DEVRIES, Rheta. Jogos em grupo na educação infantil:
implicações da teoria de Piaget. Trad. Marina Célia Dias Carrasqueira. São
Paulo: Trajetória Cultural, 1991.
10)
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo:
Livraria Pioneira Editora, 1994.
11)
____. O cotidiano da pré-escola. São Paulo: Série IDÉIAS, nº7, FDE, 1990.
12)
LEBOVICI. S. O significado e função do brinquedo na criança. Trad. Liana di
Marco. Porto alegre: Artes Médicas, 1985.
13)
MARROU, Henri-Irénée. História da Educação na Antiguidade. São Paulo:
E.P.U., 1990.
14)
OLIVEIRA, Paulo de Salles. O que é brinquedo. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1990.
15)
PAPALIA, Diane E. & OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. Trad.
Daniel Bueno. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
16)
REGO, Teresa Cristina. Brincar é coisa séria. São Paulo: Fundação
Samuel,1992.
17)
RIZZO, Gilda. Jogos Inteligentes. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1996.
Nota:
* Professor da Universidade Federal do Ceará - UFC na Faculdade de Educação
- FACED no Curso de Educação Física. Coordenador do Laboratório de
Brinquedos e Jogos - LABRINJO da UFC. Atualmente desenvolve atividades de
pesquisa, ensino, estágio e extensão na Faculdade de Educação - FACED/UFC.
Facilitador de jogos cooperativos na Educação Física. Membro da diretoria
da Associação Brasileira de Brinquedotecas - ABBRI.
AUTORA=PEREIRA
CRESTANELLO ANGELINA
CUNHA DE LIMA RAMONA
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